terça-feira, 24 de maio de 2011

Piratas do Caribe 4 - Navegando em águas misteriosas (mas sem chegar a lugar nenhum).

Se alguém me dissesse em 2003, ano do lançamento do primeiro Piratas do Caribe, que o terceiro filme da franquia, "No fim do Mundo" (2007), seria tão ruim, eu duvidaria bastante. Poderia até dizer: Mas com o Jhonny Deep, Orlando Bloom e a Keira Knightley e ainda dirigido pelo competentíssimo Gore Verbinski? Eu duvido. Mas o resultado foi decepcionante. O Ted Elliot e o Terry Rossio rechearam o roteiro do filme com situações catastróficas, sobrenaturais e fantasiosas que levavam a crer que tudo acabaria no "fim do mundo" propriamente dito, mas que acabou em cenas de ação bem feitas, cheios de movimentos de câmera apurados e difíceis de realizar, que são vistos nos melhores dos filmes produzidos pelo Jerry Buckheymer, produtor de toda a franquia Piratas do Caribe, e também do Steven Spielberg, vide "O resgate do Soldado Ryan", mas sem utilidade em todo o contexto do filme, que de bom mesmo, só tem a força de interpretação do Jhony Deep que salva um personagem irrealizável por qualquer outro ator (e digo mesmo) e a Keira Knightley (claro!). Nunca gostei dos diálogos do filme, sempre os achei implausíveis demais nas situações mais adversas. A fotografia do filme nunca me agradou e o espírito pirata sempre me pareceu bastante forçado e nada convincente. A trilha sonora... sempre a mesma.



Então, se alguém me dissesse em 2007 que em 2011 o 4º filme da série, Piratas do Caribe - Navegando em águas misteriosas, seria ainda pior, eu não acreditaria. Mas comecei a acreditar, desde a anunciada mudança de diretor: sai o talentosíssimo, responsável pelo "O Chamado" e "O sol de cada manhã", Gore Verbinski e entra a mão por trás de Nine e Memórias de uma Gueixa, Rob Marshall (foto). Nada contra o Marshall, que aliás fez um grande trabalho em Chicago também, em 2002, mas o Verbinski, pelo menos, possuía o controle da série, tanto técnico quanto humano, na parte dos atores. Tudo o que o Jhonny Deep desempenhou nos 3 primeiros filmes da série também tem um grande parcela de contribuição do Verbinski que soube como dirigar um personagem tão complicado quanto o Jack Sparrow. Mas bem, trocaram o diretor e entrou o Marshall, que pegou o bonde andando, copiou, ou pelo menos tentou copiar, a maioria dos enquadramentos e planos de filmagem do Verbinski mas pecou piamente na tarefa de dirigir os atores.



Com o adeus do Bloom e da Keira os fãs do filme tiveram que se contentar com mais do Deep como Sparrow e com a Penelope Cruz como a Angelica. Nesse filme em especial nós vemos um Sparrow bem mais maduro, que pouco fica bêbado, já caminha de forma retilínia, fala menos bobagem e em resumo, é bem mais chato e monótomo do que nos filmes anteriores. Uma crítica diretamente ao casal, Cruz e Deep, falta química em diversos momentos e falta emoção na interpretação de algumas cenas cruciais do filme. É pela primeira vez que critico a Penelope Cruz dessa forma, mas a interpretação dela da Angelica foi sofrível, muitas vezes lendo o texto de forma tão arrastada e trôpega que é difícil encontrar as características da
atriz que recentemente venceu o oscar.



E o que falar do roteiro do novo "Piratas..." hein? Nunca na história desse país se viu tão absrurdo quanto este. O 1º ato vem do nada para encerrar no coisa alguma. Sparrow aparece de sua forma atrapalhada pra fazer as coisas mais engraçadas porém mais implausíveis. E tome cena de ação sem graça, cheia de efeitos especiais desnecessárias só pra encher a tela. 2º ato, o momento em que ele encontra o personagem da Cruz é ainda pior.  "Só de pensar que em qualquer momento um dos dois poderiam morrer naquele confronto e depois pensar na reação deles por já se conhecerem desde o início da batalha", você já desmerece o texto, que na realidade não merece coisa alguma. Depois o filme se enche de navios e com os diversos navios vem os diversos nomes e com os diversos nomes vem as diversas maldições e rituais para quebrar as maldições que, detalhe, são explicadas durante cenas perigosas onde NINGUÉM EXPLICARIA NADA!! A não ser que esteja num filme do Marshall. Resultado, o roteiro do filme se perde tanto em subtramas ridículas como a do missionário com a sereia que claramente servem apenas para alongar mais o cansativo filme, que o resultado final é um desagrado só.

Mas tem pontos positivos em relação ao resto da série? (você me pergunta). Não (eu lhe respondo). O filme é muito mais sem graça, perdeu grande parte do pouco brilho que tinha, na minha opinião, pela mudança de diretor, exagero ainda maior na fotografia cheia de sombras, exagero ainda maior no roteiro implausivilíssimo, atuações fraquíssimas dos coadjuvantes e até da Penélope Cruz, vontade de popularizar, infantilizar ainda mais a série (claro, mamãe eu sou da Disney) pra lucrar ainda mais com o nome, o sucesso dos outros filmes e a fama de Jhonny Deep que, ao contrário da qualidade da série "Piratas...", só vem aumentando a sua fama no passar dos mêses, anos, mesmo lançando pérolas como "O Turista" e "Alice no país das maravilhas" ambos de conteúdo no mínimo duvidoso, ou ausente do mesmo.

Se você for ao cinema esperando ver um filmão, vai encontrar. Um grande filme de 141 minutos chato, cansativo, desinteressante e em resumo: ruim. Se você é fã da série, sugiro que opte por ficar em casa reassistindo os primeiros 2 filmes da franquia. Meu medo é que até esse gênero de fantasia e aventura fique cada vez mais saturado com filmes de péssima qualidade como os últimos "As crônicas de Nárnia" e o filme aqui discutido.

Piratas do Caribe 4 - Navegando em águas misteriosas, tecnicamente falho e emocionalmente um pé no saco.

Nota: 3,0
Nota especial para o programa "Rapidinha no Cinema": 0 rapidinhas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A Casa Muda - Medo real em tempo real?

SIM! Existem cortes em "Festim Diabólico" do Hitchcock. Por mais que fãs desesperados tenham tentado provar na época, 1948, que o filme foi gravado em uma única tomada, um único plano sequência, na linguagem cinematográfica, one single shot, o tamanho insuficiente dos rolos de filmagem não permitiria que tal feito se realizasse.

Mas aqui estamos nós, mais de meio século depois do intento Hitchcockiano, falando de mais um filme que tenta repetir o "feito", não realizado, do filme do mestre do suspense: A Casa Muda. A película uruguaia, do diretor Gustavo Hernandes, apresenta-se como sem cortes e produzido em apenas 4 dias. E ainda por cima gravado com um câmera digital Canon amadora!! Pode tudo isso ser possível? E ainda... se tudo isso for possível e resultar num filme. Esse filme é bom? Curioso? Dá uma sacada no trailer.





Bem amigos... já começando com tudo o meu comentário sobre o filme, afirmo: "A casa muda" é um belíssimo filme de terror. Sim, senhores. Ágil em sua média duração (79 min), surpreendente, bonito de se assistir, "A Casa Muda" já pode ser considerado uma grata surpresa do gênero neste ano. E a surpresa ainda é maior para os desavisados, pois o filme vem de um país da América do Sul, demonstrando a competência cada vez maior dos diretores de língua espanhola (Del Toro, Paco Plaza, Hernandes, dentre outros) na direção de filmes de terror, enquanto a insdústria norte-americana, grande consolidadora do gênero, cai aos pedaços.

Na realidade o elenco do filme possui poucos atores, e a história foca mais no terror que se abate sobre a personagem da Florencia Colucci, na casa isolada de tudo e todos, com seu pai e um amigo da família, que os contratou para tirar o excesso de folhagens e mato no derredor da casa, que logo será vendida. Mas a casa possui segredos, que pouco a pouco são revelados, prendendo a atenção imediata do telespectador.

O roteiro do Oscar Estévez não abriu mão de alguns clichês típicos do gênero (os espelhos, o vulto que passa atrás, a lanterna que sempre falha), mas também reinventou-se e reinventou seu próprio estilo, na criação de cenas rápidas e cheias de tensão.


Mas, eis o cerne da questão. Toda a beleza da fotografia que evoca a escuridão, mas ao mesmo tempo cores gélidas, tênues e aterrorizantes, foi feita por uma câmera Canon semi profissional?? E o ritmo do filme? Será que foi mantido sem o auxílio dos cortes? Na minha opinião, a resposta para todas essas perguntas é: não.

E é por isso que talvez eu tenha me desagradado um pouco do filme,  que mesmo com qualidades reconhecidíssimas, possui algumas falácias, alguns lapsos não respondidos. A questão dos cortes, por exemplo, fica claro, em diversas situações, que são utilizados, principalmente em cenas na qual a personagem principal mergulha em escuridão profunda, onde, se eu não puder afirmar com certeza que houve cortes, alguém deverá se esforçar bastante para me provar o contrário. 

E a câmera? De jeito nenhum a profundidade e a paleta de cores obtida em "A casa muda" vieram de uma câmera semi-profissional Canon! Coloco a minha bela mão no fogo! A última cena deixa claro isso. A visão do personagem enquanto é assassinado resume a plástica do filme, e eu asseguro, que aquelas imagens vieram de uma câmera profissional, num ótimo trabalho do diretor de fotografia que, além de mascarar alguns cortes em cenas chaves da película, ainda trabalhou de modo belíssimo com o claro e escuro e com a profundidade de campo.



Não há como negar que o final do filme é meio confuso e pode desagradar alguns desatenciosos, mas cenas inspiradíssimas e um belo visual são atrativos imperdíveis no terror uruguaio.

AH! E o desfecho verdadeiro do filme ocorre após os créditos finais, ou seja, de qualquer maneira, houve um corte na temporalidade do filme, até porque, antes dos créditos era noite e depois dos créditos era dia. Fica comprovada então a existência de cortes. Porém, polêmicas a parte (e marketeiros geniais a parte também), "A Casa Muda" é um filme de terror a ser assistido por todos que admiram o gênero, talvez não por ter essa cara de "coisa nova no pedaço", mas sim por ser uma obra regular e que contraria os desastrosos padrões atuais que vemos nos filmes de terror.  

Nota = 7,0

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os vampiros que se mordam


É, eu li todos os livros da Stepenie Meyer. Não foi fácil, mas consegui. O que deu em mim? Simplesmente quis descobrir "qual era" a dessa escritora que resolveu desconstruir o mito de figuras históricas de filmes e contos de terror: vampiros e lobisomens. Admirei o talento com que a Meyer renovou as histórias dos monstros, concedendo-os novas características e personalidades, voltadas estrita e unicamente ao público adolescente. Acredito que o cinema e a literatura disponibilizam à qualquer um o tipo de leitura que quiser à respeito do assunto que quiser e da forma como bem desejar.Penso que aqueles que levantam a voz para praguejar contra os livros e filmes dos "vampirinhos adolescentes" agem de forma precipitada e equivocada, não considerando o aspecto de abordagem da autora, e respectivamente dos filmes baseados em seus livros, que traduz toda a gama de emoções que carrega o adolescente (e pré adolescente) do século XXI. É inevitável. O passivo, alienado, sedentário e ansioso adolescente dos nossos tempos se vê na pele de personagens (esdrúxulos e sensíveis ao extremo) como Edward Cullen, Bela Swan e Jacob Black. Isso agrada. É um tiro certeiro no público. Os filmes são irregulares, para não dizer ruins. O primeiro é mais besta que o livro. O segundo mantém o nível do terceiro, com direito a uns péssimos efeitos especiais. E o terceiro tenta contornar o fraqueza da história com um roteiro que corta metade do livro. É o melhor dos três.

A verdade é que pra agradar essa "jovaiada" aí de hoje não vem sendo muito difícil. Muita coisa de qualidade duvidosa vem fazendo sucesso entre jovens e adolescentes, "traduzindo as suas emoções". Não dá para criticar a história sabendo do seu público alvo, mas dá para constatar como a juventude vem consumindo coisa besta atualmente. Quer dizer, besta para nós, um pouco mais rodados na vida. Bem, é confuso, mas os "pirra" curtem.

Mas ei, já falei de Deus e o Diabo nessa matéria e não falei de "Os Vampiros que se mordam" (Vampires sucks, 2010). Talvez fosse até melhor acabar sem falar desse filme. Mas pra justificar o título da matéria, "OVQSM" é uma paródia da saga Crepúsculo, com direito à referências pop, queridinhos do tal "público jovem". Bem, se você nunca leu nenhum livro da saga Crepúsculo apenas não assista o filme pois o mínimo de graça dele está nas piadas feitas para os fãs dos livros.

A paródia no cinema já teve seus tempos áureos. Leslie Nielsen já fez enormes platéias caírem na gargalha assistindo a filmes como "Apertem os cintos, o piloto sumiu". Charlie Sheen, atual ex ator famoso, também participou de filmes clássicos do estilo paródia, como "Top Gang" e "Top Gang 2". Mas talvez o filme, que depois virou franquia, que melhor (qualidade mesmo) represente o estilo seja o clássico "Todo Mundo em Pânico", que depois do brilhante começo, descambou em filmes cada vez piores. Após a perda de qualidade da franquia, os realizadores de Todo Mundo em Pânico passaram a se aventurar cada vez mais em outras produções de qualidade cada vez pior. Se o Todo Mundo em Pânico original possuía um tom de crítica explícito e era engraçado por causa disso, os novos filmes de paródia não tem tom de nada. Há apenas o interesse de encher algumas sessões e faturar alguns milhões com o sucesso do filme parodiado. Top Gun contava uma história, Apertem os cintos contava uma história. Todo mundo em Pânico (pelo menos o primeiro) contava uma história, mas filmes como "Os Vampiros que se mordam" não contam história nenhuma, dignam-se apenas em expelir absurdos após absurdos sem nenhuma importância narrativa, sem esforço por parte dos atores e sem nenhuma preocupação técnica.

Não vou dar spoiler do filme, nem contar sinopse apenas porque não consegui imaginar nenhuma. Se os filmes originais da saga já são fracos, tanto em roteiro quanto em técnica, a paródia é... sem comentários. Sou extremamente chato com comédias. Não é qualquer coisa que me faz rir e "Os vampiros que se mordam" não se esforçou nem um pouco para fazê-lo. Sem auto-crítica, sem graça e sem sal. Só mais um filme ruim.

Nota = 1,0*

* : Só por dar umas sacaneadinhas com crepúsculo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

REC 2, Possuídos.


Sabe aquele filme que você queria muito que estreasse nos cinemas? É aquele mesmo, caro leitor. No seu caso pode ser "Amanhecer", no caso do seu amigo o novo "Harry Potter", o seu pai torce para que finalizem-se logo as gravações do "He-man". E eu, pobre amante de filmes de horror, o que estava esperando neste ano? Bem, depois de um "Pesadelo" desastroso e um "Caso 39" cruel para engolir, eu não esperava mais nada, sinceramente, mais nada. Esses dois que citei são apenas exemplos, o ano foi muito cruel para os fãs do autêntico horror movie. Mas, para não ludibriar a você que me ler, conto-lhes, esperava mais do que tudo a um filme de terror neste ano que não poderia me decepcionar. Um, apenas um para salvar a pátria: REC 2.
Pra que não conhece o filme original, REC conta a história de um grupo de pessoas que acabam se deparando com uma estranha situação: a de ficarem presas no seu prédio porque estavam sendo contaminadas por algo mortal que as transformavam em monstros que partiam ao ataque dos outros, humanos, para mordê-los e contaminá-los também. O detalhe é que toda a ação do filme é mostrada a partir da técnica da câmera subjetiva, técnica esta observada com perfeição em "A bruxa de Blair" (The Blair Witch Project, 1999), não tão com perfeição no audacioso até demais "Cloverfield" (Cloverfield, 2008) e no bom Atividade Paranormal (Paranormal's Activity, 2009). REC foi uma surpresa. Na direção de Jaume Balegueró e Paco Plaza o filme assustou platéias no mundo todo, desde a Espanha, onde o filme foi realizado, rodando o globo e chegando ao Brasil, onde esse que vos escreve recebeu com euforia e aplausos incrédulos ao belo filme de terror o qual assistiu.
REC foi contundente. Sem explicações, sem choramingos, sem rodeios, sem alívios, melodramas (não que isso tudo seja ruim mas suas ausências contribuíram para a força narrativa do filme). Como diriam alguns amigos, um filme "bruto". A técnica da câmera subjetiva surpreendeu muito, onde vimos tudo na óptica de um cinegrafista que filmavas as ações. Ok, fim do filme. Começam-se as expeculações do segundo, confirma-se a existência do mesmo e depois de todo o processo de pré,pro e pós que todos já possuem conhecimento, dois anos depois da estréia do primeiro filme chega nos cinemas REC 2, Possuídos.
Juro que passei um tempo extremamente viciado nas notícias sobre o segundo filme, mas como o mundo não pode parar por causa de alguns monstrinhos, acabei esquecendo com o tempo, quando então vi que estava próximo o lançamento corri para ratificar. Sem ao menos ler a sinopse do filme, fui aos cinemas convicto, sem titubear da qualidade do material que estava para ver. Os roteiristas: os mesmos. Os diretores: os mesmos do primeiro. Vai dar tudo certo e o ano não foi perdido. Deu?
Não amigos, não foi dessa vez (pelo menos este ano) que consegui sair feliz de um filme de terror no cinema. Muito pelo contrário, saí paulatinamente triste. O roteiro do filme, que era o seu maior forte (ele e a direção, que ademais falo) descambou, torridamente e tristemente uma ladeira drástica rumo ao fracasso. A história, recheada de ótimas exposições, situações explicadas apenas pelo focar da lente da câmera, descambou para um excesso de exposições inadequadas e um frequente ilogismo de "registrar tudo" que irritou até o mais leigo telespectador sentado em frente ao telão goliesco. O que eu fiz muito foi rir. Eu ri muito, não por dentro, onde o meu desejo era parar o filme e mandar fazê-lo de novo, mas ri das situações absurdas criadas e das equivocadas soluções tomadas (agora sim) pelas mãos dos diretores Jaume Balegueró e Paco Plaza. As mini câmeras adcionadas ao enredo do filme contribuíram para a sua superficialização e fugacidade da situação original, onde uma câmera filmava toda a situação. O excesso de cortes prejudicou o entendimento de muitas situações, algo que pouco acontecia no primeiro filme, quando o mantenimento da câmera ligada, sem parar, contribuía para a permanência da tensão. Se Roland Barthes criticasse esse filme ele com certeza diria que enquanto o REC (original) foi um filme "erótico" (que mostrou mas não escancarou nada ao telespectador) o REC 2 foi um filme "pornográfico" (que entregou tudo pra quem assiste de forma ruim e desinteressante).
O excesso de personagens também prejudicou este filme, enquanto o original possuída praticamente dois personagens principais (a repórter e o cinegrafista), esse teve incontáveis, desde os policiais que penetraram o prédio (com suas micro-câmeras) junto com o padre (ou cura, para "los intimos") e os garotos, a partir da metado do filme.
REC 2 não funcionou. Eu não quis acreditar na palavra quando li pela primeira vez: REC 2, "POSSUÍDOS". Não quis ver o lógico, nada no primeiro deixaria margem a isso, além de algumas pistas algumas fotos, mas nada mais no filme apontava a isso, mas o roteiro do 2 nos apresentou aos demônios de REC. Eles eram demônios. A desculpa pra isso? Ridícula, não necessita-se falar aqui, cabe a você atestar o que digo quando assitir. Não acredito que alguém vá realmente engolir a história de REC 2. Além de pouco assustar é pouco criativo, parece que montado às pressas, "monetariamente dirigido" e "filhadaputamente" finalizado. Foi triste para mim porque esperava mais, esperava muito.
Se o remake americano do brilhante REC já foi ruim imagine se inventarem de fazer um remake desse (que parece e é um filme totalmente diferente) ruim REC 2, vai ser um jurupeba nauseante. Vem aí "O Último Exorcismo", pelo trailer já criei meus pré-conceitos, mas quem sabe queime minha língua. Enquanto isso, Jesus, deixe-me chorar pela tristeza do REC 2, Possuídos.

obs: essa crítica não vale para o momento em que a câmera cai e vemos o desenrolar de um ataque de uma menina endemoniada à 2 policiais pelas sombras da parede e sem áudio. Essa cena me lembrou o REC, o terror, o dislumbramento, mas depois me lembrei que a menina estava endemoniada, então brochei de novo.

NOTA = 4,0

sábado, 4 de setembro de 2010

O Escritor Fantasma e Roman Polanski (ou vice e versa)



Amigos e amigas. Todos vocês sabem que o cinema é uma arte e, assim como nas artes plásticas, na música e nas outras artes, alguns nomes se destacam mais do que outros. Quantas pessoas existem que mesmo não se interessando por pintura, conhecem e até já estudaram obras de Da Vinci, Picasso, Van Gogh. A mesma coisa com a música clássica, por exemplo. Quem nunca ouviu as quatro estações do Vivaldi? Obras que já se tornaram quase obrigatórias para todo aquele que deseja sentir-se verdadeiramente no mundo. O que isso tudo tem a ver com "O Escritor Fantasma" (Ghost Writer, The, 2010)?

Roman Polanski (vide foto no topo do blog) é um desses nomes indispensáveis no meio artístico. Seu estilo, a composição de enquadramentos, a consistência narrativa, a construção e desconstrução dos seus personagens, a forma como os seus filmes marcam qualquer um que os assista é referência na arte cinematográfica. Aqui não quero nem mesmo citar algum tipo de polêmica com a qual o Roman Polanski tenha se envolvido e sim, me ater à figura do brilhante cineasta que é o Roman Rajmund Polański. Desde o seu "Faca na água" (Knife in the water,1962) Polanski mostrou que consegue traduzir como ninguém a aflição que o homem tem quando se depara com o desconhecido, o misterioso, e que na verdade se revela como parte de si. O homem que luta contra o homem interior. E mesmo quando a causa do mistério, do terror, é realmente o sobrenatural, algo que transcende a realidade, ele se torna tão humano, tão moral, que sempre nos leva a pensar sobre algo de nosso contexto social.

No, talvez seu filme mais famoso, "O bebê de Rosemary" (Rosemary's baby, 1968), Polanski leva o telespectador a uma atmosfera totalmente surreal. Envolve a todos com a sua cadência narrativa e a incrível forma de como trabalha com os atores, conseguindo retirar deles a melhor atuação que os mesmos podem realizar. Foi assim também em toda a trilogia "O Apartamente" que, além de "O bebê de Rosemary", inclui o "Repulsion" (Repulsa ao sexo, 1965), que penetra no sub-consciente de uma mulher isolada e em conflitos com o seu eu, e "O Inquilino" (Le Locataire, 1976), pra mim um dos seus melhores filmes, que surpreende com a beleza da fotografia e perfeição dos enquadramentos, além de total acerto da direção de arte, tudo isso nas mãos de um diretor que domina completamente todas os tramites do fazer cinematográfico.

Polanski é um daqueles diretores que não compilam a sua obra em apenas um outro gênero cinematográfico. Na analise dos filmes do diretor polonês, encontro filmes de suspense, terror, drama, comédia e até um filme noir, o famosíssimo "Chinatown" (1974).

"O Escritor Fantasma" (Ghost Writer, The, 2010) é o novo filme dirigido e escrito por Roman Polanski. O filme é uma adaptação do livro homônimo de Robert Harris, que também contribui na composição do roteiro. A história é sobre um escritor fantasma londrino (Ewan Mcgregor) que é contratado para escrever as memórias de Adam Lang (Pierce Brosnan), um ex ministro britânico que é acusado de ter financiado violentíssimas ações anti-terroristas do governo americano, que resultou em morte de muito britânicos, inclusive. Ao aceitar a proposta de escrever as memórias de Adam, o personagem do Ewan Mcgregor sabia que estaria sobre forte pressão, mas não sabia que se infiltraria numa trama que pode ter levado o seu antecessor, o escritor Mike, a se suicidar.

O roteiro está longe de ser previsível. Desde o primeiro minuto o espectador se surpreende com um fato novo atrás de outro. O filme é dinâmico, não cansa. Ewan Mcgregor e Pierce Brosnan parecem confortáveis nos seus respectivos papéis. Ewan, há muitos filmes mostra ser um ator de talento e personalidade invejáveis. Pierce Brosnan, depois de ir do céu ao inferno, vai se recuperando lentamente de um período de turbulência na sua carreira em Hollywood.

É um orgulho ver mais um filme do Polanski. E um filme rico. O diretor não erra em ponto algum. A técnica é impecável, a direção de arte, a paleta de cores que valoriza o marrom, o azul, o branco, a fotografia, o trabalho com os atores, a edição, a emocionante trilha sonora, que remete a toda filmografia do Polanski, os instrumentos de metal, trumpete, sax, que soam rapidamente nos momentos de perseguição de carros, que relembram claramente os bons momentos de "Faca na água" e "Repulsa ao sexo". Mas o que mais impressiona são os enquadramentos utilizados pelo diretor, sem precisar apelar pelos super close-ups e , muitas vezes, utilizando-se de planos bem abertos, Polanski consegue prender a atenção, construir belos quadros e cenas de tirar o fôlego. A atuação dos coadjuvantes também é sensacional. Tom Willkinson mostra ser ainda um ator fantástico. Todo o filme punge e conflui para um inevitável encantamento e um final surpresa, poético e devastador. Trama perfeita.

Polanski ainda tem muito o que dar ao cinema, "O Escritor Fantasma" é apenas uma prova do que ele ainda pode fazer, construindo atmosferas que mostram ao homem o monstro que ele pode ser. Sabe-se que esse filme, mais do que os outros, tem um toque pessoal do diretor, uma tristeza, mágoa, que guarda dentro de si em relação aos Estados Unidos, mas se essa mágoa continuar e o diretor continuar fazendo filmes como esse, não é nenhum mal negócio. Um filme brilhante, um diretor brilhante.

Nota = 8,0

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Os Mercenários

Alguém já me disse um dia que só assistia a filmes que ele realmente sabia que ia gostar. Eu disse então que assim ele estaria se privando de uma das maiores emoções que o cinema pode proporcionar: a surpresa. Sabe aquele filme que você não dá nada, que vai assistir de contra-gosto, só porque aquele amigo que você gosta muito lhe convidou pra assistir e na realidade se revela um grande filme e acaba até marcando a sua vida entrando no seu "top list" cinematográfico?

Pois é, não é isso que acontece com "Os Mercenários" (Expendables,The,2010). Bem, o elenco é dos sonhos para qualquer produtor/diretor/fã viciado, de filmes de ação. Nomes como Silvester Stallone (que aliás dirige o filme, prenunciando o que vem por aí), Jet Li, Jason Statham, Dolph Lundgren (de filmes como Missão Romana e Ação Imediata, se você não assistiu a estes, parabéns você não tem probleminhas). Sem contar com o grandioso (apenas em tamanho) Terry Crews, Mickey Rourke e as participações (super)especiais de Bruce Willis e Arnold Schwaznegger. Pronto, está feito o filme de ação dos sonhos e até para o mais ferrenho crítico ao estilo o filme soará agradável por reunir tantos talentos. É impossível dar errado, serei surpreendido com o melhor filme de ação do século!

Bem... não foi tão assim que as coisas funcionaram com Os Mercenários. Muito pelo contrário, o filme, também escrito pelo Sylvester Stallone junto com Dave Callaham, nos seus aproximadamente 105 minutos de duração ilude o espectador que, se desatento, pode até se deixar levar pelo excesso de estrelas e esquecer a grande besteira que assiste. O roteiro é manjado: um conflito, um jogo de interesses, uma equipe americana que pode resolver todo o problema pela força física e uma paixão que pode fu... com tudo, ou não.

Falando em paixão, deve-se destacar a participação da atriz brasileira Gisele Itié, que é quem coloca um tempero diferente à trama regada à tiros e mais tiros e...e... mais nada. Sinceramente,escolhi o pior filme para começar o meu blog de críticas porque ele simplesmente não merece ser criticado. O roteiro é mal escrito, vazio, a direção possui erros crassos, às vezes levando alguns personagens a sério demais, o que os tornam ridículos, às vezes se revelando um filme cômico, com direito a sacadas pop que quebram a fronteira entre o espaço diegético e o mundo real.

Algumas cenas de luta são bem sincronizadas e os movimentos até que foram bem ensaiados, mas a maior parte dos efeitos especiais, e isso era o mínimo que eu esperava desse filme, me decepcionaram estrondosamente. Até os filmes do Dolph Lundgren (talvez) se esmeram em efeitos especiais, computação gráfica, mais convincentes do que os que "Os Mercenários" nos "presenteia" (aquela arma do personagem do Terry Crews é absolutamente absurda, a destruição que faz é mais ainda e o fato dele não sentir nada abaixo das mãos quando está atirando é pior do que tudo e ninguém decepa a cabeça de alguém com algo semelhante a um canivete. Pelo menos de forma simples não). Muita coisa explodindo e nada acontecendo em tela.

A trilha sonora do filme aparenta ter uma função de preencher lacunas da narrativa, quando a imagem não consegue transmitir por si só a emoção põe-se trilha bem alto no fundo, não é uma complementação, acaba sendo um remendo que não salva o já condenado ao fracasso. Não fracasso monetário, afinal o filme já faturou milhões ao redor do mundo e não diga que não é por causa do elenco de estrelas porque por outra coisa não é. Quer dizer, pode ser pela bela Gisele Itié, que ainda tem muito o que crescer em termos de atuação e no domínio da língua inglesa mas desempenhou regularmente o seu papel e se o filme não vai levar 0,0 é por causa do seu esforço e interesse (claro) em fazer o filme que a colocaria em contato com "nomões" da grande indústria cinematográfica Hollywoodiana.

Em suma, se você quer assistir a um filme hoje, realmente assista a um filme que você sabe que vai gostar, porque por acidente você pode ter que assistir "Os Mercenários" e depois de dois minutos terá esquecido o filme porque ele não te deixou nada para pensar depois. Pense nisso...

NOTA = 2,0